Depois da Lua

Agora me diga, que jornalista não gosta de um marco histórico e um belo texto para chamar de seu? É, acho que desse defeito de fábrica eu não escapei.

A data é 20 de julho de 2019, completam-se 50 anos que três homens se aventuraram pelo espaço e dois deles caminharam sobre a superfície da Lua. Lá mesmo, onde não há ar ou vento, água ou mesmo alguma dona Maria com seus cactos. Lá, na luz que paira sobre todos os céus há bilhões de anos e ainda assim é tão nova, tão inusitada, incapaz de se imaginar. Por isso, imagino eu, como é pisar onde ninguém mais pisou e a cada passo desafiar todos os nossos limites. Sem asas para voar, criamos algo que nos levasse ao céu. Sem guelras que nos permitissem respirar sob as águas, inventamos máscaras, barcos e submarinos amarelos. Com corpos frágeis demais construímos máquinas. Máquinas que constroem castelos. Máquinas que contam até 1 trilhão. Máquinas para o que der e vier. E penso eu, são 50 anos do homem na Lua e 350 mil anos dos homens na Terra. Quantos passos já demos até chegar lá? Quantos inventos?

Soube que agora querem ir até Marte, conhecer novos tons de vermelho. Novos tons de púrpura em alguma nebulosa. Digam-me Neil, Aldrin e Collins, quantas batidas o coração aguenta depois da atmosfera? Saudade continua sendo saudade depois da fronteira? E como é olhar para o céu e ver sua casa, flutuando como que por mágica a quilômetros de qualquer outra astronave e ter a singela certeza de que há milhares de pares de órbitas sonhando com esse momento agora?

Imaginem o rádio velho de seu João dos bois, falho e gago dizendo que um foguete americano acabou de decolar. Imaginem seu João dos bois dizendo “isso é conversa homem”. “O que é conversa vovô? ” “Tem homem na Lua agora Vitor”. Mas Vitor sempre soube disso. Ele sempre viu um guerreiro com seu Dragão. “É São Jorge vovô”. E João dos bois se benze. Porque são 350 mil anos do homem na Terra, 113 anos de 14-Bis nos céus, 516 anos que Gioconda sabe daquele segredo. Seriam então os deuses astronautas que vieram nos contar?

Não sei, João dos bois também não sabe e se F. Kennedy sabia ou não, será sempre a grande questão. Mas até que tudo seja desvendado e virado literatura em papel cartão, Vitor e todos os pequenos terão sempre a plena certeza, de que é possível ir até lá. Até lá e muito, muito mais além.