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Apropriação Cultural & o ponto em que você perde a razão

  • Foto do escritor: Manuela Torres
    Manuela Torres
  • 28 de nov. de 2018
  • 5 min de leitura


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Que os negros, os indígenas, as mulheres, a comunidade LGBTI, os deficientes, os refugiados e etc. são minorias sociais, isso é um fato. São anos e anos, séculos e séculos, eras e eras capazes de evidenciar esta afirmação com provas para lá de chocantes. Contudo, o que a nossa geração vem enfrentando diante da atual conjectura ideológica que luta pela extinção de preconceitos, é senão um grande dilema: até que ponto militar na causa dos que viveram séculos de opressão, sem ferir a liberdade de expressão de todos?


Para isso se pensa dois pontos:


1.liberdade de expressão.

2. militância.


A liberdade de expressão é justamente admitir que todos têm o de direito de ir e vir, de dizer e de agir de forma livre – sem que isso, claro, interfira na integridade das demais pessoas -.

Já a militância tem como princípio atuar em defesa de causas sociais e atuar pelo fim da intolerância.

Mas é aí que está a chave da questão: a militância serve para reaver ou conceder direitos que são fundamentais à dignidade humana, ou ela vai além disso a ponto de vingar a opressão cometida por pessoas que hoje já até morreram?

Sim, não se apaga séculos de escravidão na história com uma borracha imaginária; não existe maneira de esquecer o quanto o mundo seria um lugar bem mais justo se pessoas que diferem da condição heteronormativa imposta não fossem oprimidas e sujeitas a graves problemas físicos, psicológicos e emocionais ao longo da vida; não há, em hipótese alguma, como condenar o princípio do feminismo e aceitar o patriarcalismo como algo natural. No entanto, a vida não é uma metonímia, onde você pode qualificar o autor por sua obra. Pessoas nascidas em contextos diferentes, tendem a pensar e agir de forma diferente. O homem rico e branco estereotipado do século XIX, pode ser completamente diferente do homem rico e branco do século XXI – se este último, então, não for previamente estereotipado -.

“Certo, mas e a apropriação cultural? Meu professor de redação me ensinou que devemos tratar do tema central logo no 1° parágrafo”. Bom, então fico feliz que isto aqui não seja o Enem haha.

OK, apropriação cultural. Você acha mesmo certo forçar uma moça branca a retirar um turbante em um ambiente público -sujeito à constrangimentos- apenas porque outras moças se sentiram ofendidas com o gesto que, em suas mentes, pertence somente a pessoas negras? Você acha certo que uma garota branca seja barrada em uma festa, porque a festa é somente para negros? Você também se morde quando alguém insiste em falar sobre “racismo reverso”?

Bom, não sei você, mas eu não acho certo, nem acho errado. Eu estou aqui para pensar. Então pense comigo:


Se a militância existe para lutar por direitos que são inerentes a condição humana (em uma visão democrática da coisa), então por que seria certo ferir o direito de outras pessoas de se expressar?


Pessoas brancas que usam rastafári, pessoas negras que alisam o cabelo, homens e mulheres (brancas) usando turbante incomodam? Por que?

Pense. Enquanto pensas, ressalta-se que é impossível que exista globalização sem que as diferentes culturas influenciem uma as outras. Hoje, ocidentais são adeptos de religiões orientais, a moda na Escócia pode ser semelhante a nos EUA... enfim. Então por que quando o assunto é apropriação cultural tanta gente se incomoda?

Ao que parece, ainda há um sentimento de “injustiça”, que é plenamente compreensível. Afinal, não é por que de repente parte considerável do mundo concordou que todos merecem respeito e que devemos ser tolerantes com as diferenças que isso vai mudar tudo o que já aconteceu no passado. É compreensível porque se você ver as estatísticas elas provam quem ocupa os cargos de chefia, quem são os novos médicos do Brasil, quem entra nas melhores universidades, quem ocupa as periferias, os cargos públicos, e por aí vai. As estatísticas são bem claras e elas persistem em manter o homem branco rico hétero no topo da hierarquia social, e a mulher negra pobre e gay na base. E isso está completamente errado. Isso, de fato, deve ser combatido. Porque se ainda há poucos médicos, chefes e cientistas negros, de quem é a culpa? Se há poucas mulheres na política, de quem é a culpa? Se há poucos negros como personagens principais nas telas de cinema de quem é a culpa? Se há gays sendo mortos todos os dias por intolerância de quem é a culpa? Nossa, é claro. Faça um teste, digite “pessoas lindas” no Google imagens e veja o que há de errado. Quantos negros apareceram? Tudo isso? Você já havia reparado? Talvez. Talvez não. Talvez você tivesse apenas achado normal e, se esse for o caso, então há um grave problema. Porque já aceitamos como normal que a inserção social do negro exista, contanto que ela não seja protagonista. O mocinho da novela, a mina “10/10”, chefes de empresas, todos esses ainda devem ser brancos. Tudo bem se o negro for o melhor amigo do mocinho na novela, se a negra “10/10” tiver o cabelo liso e o nariz afilado, se a mão-direita do chefe tiver a pele escura. Tudo bem certo? Errado. Os séculos e séculos de escravidão e opressão ainda deixam forte impacto na estrutura social da atualidade. Porém, não é com gritos e gestos radicais que esse quadro vai ser invertido. Não é ético culpar as pessoas de hoje pelo o que as de ontem fizeram, mas é certo prova-las de que há uma forma mais inteligente de se pensar. Uma forma chamada amor.

Quando houverem negros cientistas, negros nas universidades públicas, negros em empresas, e negros longe das periferias sociais, na mesma proporção em que as pessoas brancas, pode-se falar em uma conquista. Quando isso acontecer, será que ainda haverá problematização no uso de turbantes? Será que ainda haverá festas só para negros? Será que alguém ainda abrirá a boca para falar de “racismo reverso”?

Deixando bem claro aqui que o tal de racismo reverso é nada mais que o sentimento criado, dentre outros motivos, justamente por essa problemática da apropriação cultural. Não existe racismo reverso. O que existiu foi um racismo contra índios e brancos e qualquer outro grupo social que diferisse do branco caucasiano. Isso é um fato histórico e isso ainda persiste. Ainda há racismo. Contra todas as “raças”. Não existe um racismo reverso porque não existe um racismo certo. Se você julga, rotula, constrange, boicota, humilha e fere uma pessoa por sua condição racial de existência, então você está praticando o racismo, e não importa o índice de melanina da vítima.

E nesse ponto a problemática da apropriação cultural é fundamental. Porque se estamos todos lutando para sanar os prejuízos causados por séculos de preconceito e exploração, por que raios iríamos querer boicotar as influências entre as culturas e delimitar os grupos sociais? Uma coisa é resgatar a história e tradição de um povo, outra coisa é afirmar que ela é excludente. De fato, a cultura de um povo é repassada de geração em geração, quase que de forma hereditária, porém, a aculturação existe e não pode ser ignorada. Com o fenômeno da globalização fica ainda mais difícil não haver um contato forte entre as culturas e a identificação entre personagens de tribos diferentes. Nota-se isso nos otakus brasileiros, que se apropriam de uma cultura de origem japonesa. Nota-se isso na moda oriental que aderiu ao jeans americano. Nota-se isso na culinária. No cinema. Meu Deus poha, em tudo. Então por que, a apropriação cultural? Reflita sobre o nacionalismo, de forma metodológica, e note a semelhança.

Ademais, a apropriação cultural não é pejorativa, ela é compreensível, e eu não irei digitar uma tese de mestrado aqui para comprovar isso. O único porém da apropriação cultural é que ela deixa de ser compreensível quando passa a interferir na integridade de outras pessoas, porque daí, a partir deste ponto, é que se perde toda e qualquer razão.

Por último: A ofensa também é um fenômeno cultural, mas isso não justifica nada.

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