Além do Sol
O despropósito não tem feito do mar mais belo essa tarde. Nem da minha caneta mais mansa, ou do meu peito mais sadio.
Tenho pensado nas letras que li, na formalidade da loucura dos outros. Tenho admirado tanto esses dias, o céu, a terra, a água e ar. A gente. A quem sente e o que. Tenho murmurado significâncias sem sentido, sem escreve-las para mim, como sempre fiz. Tenho duvidado desse meu eu escritor, desse meu feminino impossível, é, eu tenho duvidado. Tenho tentando moldes novos, faz parte de se reinventar e nada disso tem sido proposital.
É que já sonharam esse sonho. Já riram dessa piada. Já se desesperaram antes de mim. Já beijaram sob o mesmo céu, já se despiram sobre o mesmo mar. Não há nada inédito sob o Sol. Quando você se dá conta do poder das palavras, dos sinônimos e dos antônimos, você vê que o parecido não é igual, que ineditismo não é unicidade. Não duvido da unicidade de cada vida em particular, mas não me iludo com paixões e razões inéditas.
É que já disseram isso, se não, já o pensaram. Foi em novecentos e vinte e dois, quando Kandi jurou amor a uma pedra de safira. Nem Kandi era Kandi, nem Safira era Safira, mas Amor... o Amor sempre existiu. Diz-se que o Amor inventou o Mundo.
Quando você se dá conta do poder das palavras, dos substantivos e dos verbos, dos adjetivos e dos advérbios, do A e do B, você tira de letra esse lance de brincar com as significâncias. Quando um físico te diz que as cores na verdade são frequências, você aprende essa mania de Nietzsche de ironizar.
É que já estudaram isso antes. Já choraram por isso antes. As dores não são assim tão inéditas sob o Sol.
Essa necessidade do novo, é do peito ou é da língua?
Tenho questionado e respondido e rido e me importado e me vestido sensualmente desde então.
Convidei-me para jantar esse sábado, entre as estrelas, pois deve haver ineditismos para além do Sol.
E foi tão sem querer, tão inocente de minha parte, que o mar avassalador apenas permaneceu belo, como em todas as outras tardes do mundo.